Programa alia tecnologia, ética e formação multidisciplinar na capacitação de médicos
Formação de excelência em meio a um mercado que não para de crescer. A residência médica em Reprodução Assistida, ligada ao Departamento de Ginecologia e Obstetrícia (DGO) da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, se consolida como uma das mais completas do país, refletindo os avanços científicos, os desafios éticos e a crescente demanda por tratamentos de fertilidade no Brasil. Além da excelência técnica, o programa oferece uma formação baseada em princípios éticos, científicos e na humanização do cuidado, preparando médicos para atuar em um campo em constante transformação.
O programa de formação na área de Reprodução Assistida tem uma trajetória que reflete a própria evolução da especialidade no Brasil. Segundo o professor Rui Alberto Ferriani, coordenador do Centro de Reprodução Humana e professor do DGO, a residência foi reconhecida oficialmente como área de atuação entre 2000 e 2011. Após um período de mudanças na legislação, o reconhecimento foi retomado em 2018, com a denominação atual de área de atuação em Reprodução Assistida.
“Em 2020, passamos a ter as bolsas de Residência em Reprodução Assistida disponibilizadas para o processo seletivo”, relembra Ferriani. Mesmo durante o intervalo sem credenciamento formal, a formação não parou. Entre 2012 e 2019, foi oferecido o Estágio de Complementação Especializada em Reprodução Humana, que permanece até hoje como alternativa de capacitação.
Desde 2016, os profissionais da área também contam com o Curso de Extensão em Reprodução Humana, oferecido pela USP. “Esse curso permite aos médicos da especialidade obterem dupla certificação, seja pela Residência ou pela Complementação, além do certificado de Extensão pela USP”, explica Ferriani.
O professor ressalta que o serviço da FMRP é pioneiro no país, não só pela formação, mas também pelo compromisso com a assistência pública. “O fato de sermos um serviço público de Reprodução Assistida aumenta nossa responsabilidade em fazer e ensinar uma abordagem racional e custo-efetiva do casal infértil, já que apenas 5% dos ciclos realizados no Brasil são provenientes de serviços públicos”, destaca.
Estrutura robusta e formação multidisciplinar
A residência oferece uma formação ampla e alinhada às competências definidas pela Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO) e pela Associação Médica Brasileira (AMB). A coordenadora clínica do programa, professora Rosana Maria dos Reis, destaca que o currículo vai muito além dos procedimentos de fertilização.
“O programa contempla a capacitação de todas as vertentes da Reprodução Humana. Além da prática em Reprodução Assistida, formamos profissionais capacitados em ginecologia da infância e adolescência, endocrinologia ginecológica, anticoncepção, sexualidade humana e climatério”, explica Rosana.
Essa formação abrangente se apoia em uma rede de atuação interdisciplinar, envolvendo áreas como andrologia, genética médica, cirurgia ginecológica e pediátrica, além de psicologia, fisioterapia, psiquiatria e serviço social. “A integração com outras especialidades médicas é fundamental para a formação completa dos residentes”, acrescenta a professora.
Nos últimos anos, o programa também ampliou sua estrutura assistencial, incorporando novos ambulatórios especializados, como Ginecologia Infanto-Puberal, Sexualidade Humana, Diversidade de Gênero, Anticoncepção, Climatério em situações especiais e o Centro Integrado de Mulheres com Síndrome dos Ovários Policísticos, fortalecendo ainda mais a formação teórica e prática dos residentes.
Do laboratório à prática clínica
Os residentes passam por um intenso processo de aprendizado prático, que inclui desde a monitorização da ovulação até procedimentos como a captação de óvulos, transferência de embriões e preparo endometrial, além do acompanhamento de casos complexos de infertilidade e de preservação da fertilidade.
Entre as habilidades desenvolvidas estão também a estimulação ovariana controlada, aspiração de líquido folicular guiada por ultrassonografia, noções de rotina dos laboratórios de andrologia e fertilização in vitro, além do manejo de pacientes com distúrbios de desenvolvimento sexual, disfunções sexuais e acompanhamento na puberdade precoce e no climatério.
“A assistência médica com atividades práticas é realizada para todos os casos relacionados às doenças endócrinas da infância ao climatério, além do atendimento a pacientes com infertilidade conjugal ou necessidade de preservação da fertilidade”, detalha Rosana.
O programa acompanha os avanços tecnológicos da área, oferecendo técnicas como fertilização in vitro (FIV), injeção intracitoplasmática de espermatozoides (ICSI), diagnóstico genético pré-implantacional, congelamento de gametas e embriões e preservação da fertilidade, garantindo que os residentes estejam alinhados com as práticas mais atuais da especialidade.
Mercado de trabalho aquecido e reconhecimento nacional
A crescente demanda por tratamentos de reprodução assistida se reflete diretamente no mercado de trabalho. “O Setor de Reprodução Humana da FMRP é, na atualidade, o maior formador de especialistas nesta área. Temos egressos que atuam na maioria das clínicas de Reprodução Assistida do país”, afirma Ferriani.
A qualidade da formação é reforçada por um dado que comprova sua excelência. Segundo o professor Ferriani, até o momento, todos os residentes formados obtiveram aprovação na prova de título da área de atuação em Reprodução Humana, um dos principais critérios de reconhecimento profissional no país.
“A demanda por estes profissionais tem sido crescente no mercado de trabalho, e nosso programa oferece não apenas formação técnica, mas também preceitos éticos e legais fundamentais para o exercício da especialidade”, completa Ferriani.
Mais do que formar especialistas, a residência em Reprodução Assistida da FMRP-USP tem como missão oferecer uma educação de excelência, baseada na ética, na humanização e na responsabilidade social. “Nossa missão é formar profissionais capacitados, com potencial de liderança e sólida formação ética, moral, científica e humanística”, reforça Rosana.
Com uma trajetória consolidada e em constante evolução, o programa reafirma seu papel como referência nacional na formação de especialistas que aliam conhecimento científico, sensibilidade no cuidado e preparo para os desafios éticos que a reprodução assistida impõe à medicina contemporânea.